
A partir do texto podemos relacionar alguns aspectos do filme “A Vila”
com o fundamentalismo, como o próprio titulo do texto propõe (Pensamento
Sitiado: portas de entrada para um diálogo sobre Fundamentalismo a partir do
filme A Vila). Porem há mais reflexões que podem ser apreendidas a partir do
filme e do texto, partindo ainda da questão do fundamentalismo.
O conceito de fundamentalismo se encaixa no enredo do filme pela ação
dos anciões, que como dito pela autora, impõem regras e limites na vivencia do
cotidiano na vila, e isso é feito por meio de temor, um medo anterior, que não
se encontra quando se vê frente a sua fonte, mas que o antecede, um medo do
desconhecido, do não definido, um medo que é medo por si só, que não necessita
de uma gênese. Isso causa uma reação dogmática extremista, postulando suas
regras como verdades absolutas, sem abertura para o dialogo.
O motivo para os
anciões criarem a Vila, longe das cidades, e com regras baseadas no temor que
se tem das criaturas fantasiosas que vivem na floresta e impõem o comprimento
destas regras para a coexistência, tem como intuito manter os moradores longe
das cidades, transformando assim a floresta em uma barreira entre a Vila e o
resto do mundo, uma barreira entre nós e eles. Isso porque os anciões sofreram
perdas familiares de forma violenta, e isso ocorreu conforme avançava o
crescimento e a modernização das cidades, o que os fez buscar a criação da Vila
como um resgate à inocência, que na Vila estaria garantida para seus familiares
desde que permanecessem longe das cidades.
A autora argumenta
que essa busca pela inocência foi o que causou nos habitantes da Vila um
enfraquecimento perante as frustrações, pois se alguém passa uma vida livre de
frustrações, quando se encontrar perante uma situação frustrante não terá
resistência psicológica para enfrentá-la. Sendo assim, tomemos por verdade que
a frustração é o remédio contra frustração, ela criará anticorpos psicológicos
contra si mesma.
Porem, Platão diz
que “prazer é a redução do desconforto fÃsico de existir”, dessa frase podemos
deduzir então que existir por si só já é uma frustração, afinal existir causa
desconforto, o que impediria alguém de ser livre de frustrações, e, além disso,
no filme o que os anciões buscam para a Vila como havia dito, é o resgate da
inocência, tanto que tudo parecia correr bem até uma tentativa de homicÃdio,
portanto a vivência nesta Vila não tinha por objetivo ser um refúgio contra
frustrações, mas sim contra violência do mundo exterior. Por isso quando um ato
violento ocorre dentro da Vila, todo o seu sistema entra em colapso, por ter
ido contra os princÃpios pré-estabelecidos de sua organização, e talvez tenha
sido ainda pior o fato de esse ato violento ter partido de Noah, o personagem
mais inocente do filme.
Podemos concluir
que a Vila apresenta uma distopia, ou “anti utopia”, que mostra como uma
comunidade teoricamente perfeita pode ruir pela corruptibilidade de sua
organização, quando as normas criadas para o bem comum mostram-se insuficientes,
além disto, mostra também como essa organização perfeita tende a ser destruÃda
quando afetada pelo caos. Podemos ver que nos perÃodos de crises todas as
organizações podem ser desorganizadas a partir de sensações de angustia intensa
e opressão, sejam essas organizações sociais ou psÃquicas.