Aldous Huxley há muito tempo, havia previsto algo semelhante em seu “Admirável Mundo Novo”. Uma sociedade fundada na crença de formas de conhecimento limitadas e, limitadas porque o conhecimento livre poderia levar as pessoas a pensar coisas que não deviam coisas consideradas incorretas, mas nada ligado diretamente à moralidade, mas induzido a moral inconscientemente, para considerarmos um modelo a seguir, para nós, o ideal do homem ocidental branco heterossexual. “Através de conceitos universais abstratos como ciência, filosofia, Cristianismo, liberalismo.” resumindo, modelos centralizadores de conhecimento e
comportamento, que pastoreiam as ovelhas da sociedade.

Pode até parecer que todo esse paradoxo do conhecimento está evidente, descarado, mas pelo contrário, é algo enraizado culturalmente, somos sem saber que somos, e se pararmos para refletir sobre isso não aceitaremos, afinal a ignorância é uma dádiva, é melhor ser cego do que se enxergar algo que não se quer,
mas no final, somos o que somos, e é aí que se encaixa a desobediência, o pensar fora do padrão, quebrar os paradigmas, fazer o descolonial.
O que busco aqui, partindo da “desobediência epistêmica” vai além da descolonização do conhecimento, extrapola as barreiras do imperialismo científico, gostaria de entender a visão de um Antoine, carismático protagonista de livro “Como me tornei estúpido” de Martin Page, Antoine é um rapaz que não gosta da exploração colonialista, não gosta que lhe obriguem a estudar assuntos desinteressantes, odeia a
burocracia e todas as suas máscaras. Depois de tentar o alcoolismo e o suicídio, Antoine está convencido de que só a estupidez lhe permitirá ser plenamente aceito pela sociedade em que vive. O que é mais estúpido do que trabalhar para comprar coisas desnecessárias, com o único intuito de se sentir parte de uma comunidade moderna. Trazendo Antoine para o nosso mundo real, podemos dizer que ele está tentando virar o cidadão euro-americano padrão.
A crítica não só ao conhecimento colonizado, ou o estudo critico dos princípios, hipóteses e resultados das ciências já constituídas, não é uma reflexão sobre as teorias da ciência, como havia dito antes, havia de extrapolar essas fronteiras, pois então a busca foi por algo como a “desobediência cultural”, mas por quê?
Os antropólogos argumentam que a cultura é a “natureza humana” e que todas as pessoas têm a capacidade de classificar experiências, codificar classificações simbolicamente e transmitir tais abstrações. Desde que a cultura seja aprendida com pessoas vivendo em diferentes lugares, encontra-se diferentes culturas
de acordo com a região geográfica*. Trazendo esse conceito para nossa sociedade ocidental, fica evidente o porquê da questão da desobediência cultural, pois nosso subconsciente trabalha para nos deixar confortáveis em nossa sociedade, seguindo sua cultura aprendida.
A questão do aprender subconsciente pode ser explicada por um simples exemplo como as campanhas publicitárias, que manipulam a vontade do consumidor, transformando um comportamento supostamente autônomo numa serie de reflexos a que ele foi condicionado. É obviamente claro que o papel desempenhado pela publicidade é mais descarado, mas a semelhança ainda se encontra na forma de
atuar quase que inconscientemente.
Vale finalizar a partir do fato social, de Durkheim, “onde os tipos de condutas ou de pensamentos são dotados de uma força imperativa e coercitiva em virtude da qual se impõe a ele, quer ele queira, quer não”. Por isso a desobediência cultural deve ser anterior a epistêmica, e ainda, conquistada antropologicamente.
Referências :
Desobediência Epistêmica: A opção descolonial
e o significado de identidade em política; Walter D. Mignolo
O Fato Social : Emile Durkheim
Admirável Mundo Novo; Aldous Huxley
Como Me Tornei Estúpido; Martin Page