
Resumo
O
objetivo deste ensaio Ă© iniciar um debate acerca do porque o Brasil (ainda) nĂŁo deu
certo. Analisando desde sua independĂȘncia atĂ© os dias atuais. Por que
com todo seu potencial ainda continua a ser desacreditado principalmente
por seu povo, e qual a profundidade da chamada “sĂndrome de vira-lata”.
Qual a relação entre essa descrença do povo para com o seu paĂs e o seu
histĂłrico como colĂŽnia e em seguinte como “quintal” dos Estados Unidos.
Tendo como referĂȘncia assim o conhecer histĂłrico do seu tardio
capitalismo e consequentemente de sua dependĂȘncia aos paĂses
desenvolvidos, e como isso Ă© refletido ainda hoje, analisando alguns textos
histĂłricos e ensaios sociolĂłgicos, se servirĂĄ de ponto de partida para refletir tal questĂŁo.
Palavras Chave
Imperialismo; subdesenvolvimento; dependĂȘncia; cultura.
Introdução
A
permanĂȘncia da percepção do Brasil como um paĂs subdesenvolvido se deve
a fatores externos e internos, compreender estes fatores abriria campos
a serem explorados pelos pesquisadores encontrando os problemas
imediatos a serem observados (imediatos, nĂŁo mais importantes, mas que
devem ser analisados primeiro).
Quando se fala em desenvolvimento se tratando de Brasil, muito se pergunta sobre “o que fazer?”, “quem beneficiar?”, “que parceria comercial Ă© mais lucrativa?” e etc. E hĂĄ de serem ignoradas as causas e consequĂȘncias desse suposto atraso, portanto analisar a consolidação do Brasil como um paĂs, sua independĂȘncia, seu capitalismo,
seu endividamento em prol do desenvolvimento industrial que acarretou
sua dependĂȘncia a agentes terceiros, sua ditadura, enfim, sua historia. Ă
de primordial instancia se conhecer, entender e entĂŁo procurar
soluçÔes. Mas o problema central a ser tratado aqui não é o conhecer,
mas sim entender. Para se entender serĂĄ necessĂĄrio transpor uma
barreira, e essa barreira Ă© praticamente cultural, onde segundo Paulo Silvino Ribeiro “os
tipos de condutas ou de pensamentos são dotados de uma força imperativa
e coercitiva em virtude da qual se impÔe a ele, quer ele queira, quer
nĂŁo” RIBEIRO, Paulo Silvino. "Durkheim e o Fato Social"; Brasil Escola. DisponĂvel em <http://brasilescola.uol.com.br/sociologia/durkheim-fato-social.htm>. Acesso em 10 de junho de 2017.
Justificativa e relevĂąncia do tema
O
pioneirismo dos paĂses ibĂ©ricos em busca de terras ultramar trouxe uma
hegemonia econĂŽmica entre os paĂses da Europa, Espanha e Portugal com a
“conquista” da AmĂ©rica, que passaram a ser potencias europĂ©ias.
No século XIX e XX com
o novo colonialismo, diversos paĂses em busca de hegemonia e expansĂŁo
territorial, passaram a colonizar paĂses da Ăfrica da Ăsia. Com esses
dois exemplos fica evidente que sempre houve uma busca por hegemonia por
parte dos estados europeus.
Ao longo da histĂłria sempre houve uma potĂȘncia que se sobressaia em relação Ă s outras, seja uma dominação econĂŽmica ou militar. PorĂ©m nunca havia ocorrido uma dominação de forma tĂŁo hegemĂŽnica como a da europĂ©ia e posteriormente a dominação americana.
Talvez
realmente haja ou houve esse pensamento de superioridade dos povos
europeus em relação aos outros povos e naçÔes. Esse sentimento ocorra, quem sabe, por culpa de um egocentrismo, em que achavam (ou acham)
que os paĂses do terceiro - mundo ou subdesenvolvidos precisem chegar
ao desenvolvimento. Porém eles não levam em consideração qual seja o
conceito de desenvolvimento em outros lugares. Acabar com os recursos de
um continente inteiro e depois devastar parte de outro continente, isso
Ă© desenvolvimento?
A busca por colĂŽnias nesse perĂodo, talvez tenha sido acionada em vigor da acumulação e expansĂŁo do capitalismo, que se instalaram
no continente Europeu pĂłs Revolução Industrial. Esses paĂses estavam
mergulhados nesse desenvolvimento desenfreado; com o discurso de trazer a
cientificidade e o desenvolvimento pleno para as suas colĂŽnias.
Discurso esse que era uma completa falĂĄcia.
Os paĂses da Ăsia e Ăfrica nĂŁo contestavam de forma plena o domĂnio
feito pelo seu colonizador; muitas vezes o colonizado acaba de certa
forma reproduzindo esse discurso. –Poderia fazer uma analogia Ă sĂndrome
de Estocolmo.
No
século XXI, como se sabe não existe mais impérios, não da forma como
foi caracterizado no colonialismo e no novo- colonialismo. PorĂ©m os paĂses do eixo euroamericano, mantĂȘm uma hegemonia em relação aos demais, hegemonia militar e economicamente. VĂĄrios sĂŁo os segmentos ou esferas
em que seria possĂvel citar a influĂȘncia dos Estados Unidos em outros
paĂses, exemplos que percorrem as alianças polĂticas, o discurso
cientifico, economia; passando pela indĂșstria do entretenimento e por
fim uma influĂȘncia cultural.
A relação entre os paĂses hegemĂŽnicos e os paĂses tidos
como do terceiro mundo se då de forma vertical, a exploração econÎmica e
de recursos Ă© grande como em pleno perĂodo imperialista.
Essa forma de imperialismo de certa forma pode
chegar a ser pior, pois nĂŁo se demonstra de forma direta e visĂvel.
Anacronicamente o discurso dos Estados Unidos Ă© o mesmo dos paĂses
europeus usado no imperialismo; vendem a ideia de trazer melhorias e
avanços para esses lugares. Os povos desses paĂses de forma inconsciente
adotam e repetem esse discurso, renegando as suas origens e o que seu prĂłprio povo produziu de cultura, ciĂȘncia, tecnologia e etc.
A Teoria da DependĂȘncia foi elaborada por pesquisadores
sociais que, buscando uma explicação dos problemas de desenvolvimento
fora da visĂŁo elaborada pelo histĂłrico-social europeu, chegou-se a
conclusĂŁo de que o subdesenvolvimento nĂŁo Ă© inĂcio, mas fim. O subdesenvolvimento Ă© o resultado de um processo de exploração e dependĂȘncia colonial.
Bom,
pode-se ter entendido entĂŁo as raĂzes do subdesenvolvimento de paĂses
periféricos por seu histórico como colÎnia, mas para se sair desta
condição de subdesenvolvimento, o que fazer?
Um bloco se dividiu onde muitos opinaram que Ă© impossĂvel recuperar os subdesenvolvidos, haverĂĄ apenas a perpetuação da situação de “atrasado”; o que se pode fazer Ă© submeter-se aos paĂses desenvolvidos, para deles receber alguma coisa (a melhor perspectiva para um trickle down internacional).
O
outro lado sustenta que Ă© possĂvel o desenvolvimento autĂŽnomo do paĂs e
a ruptura com toda dependĂȘncia colonial. E, em se tratando do Brasil, vĂȘ-se, analisando todos os paĂses do mundo, que Ă© um dos mais viĂĄveis, mais completos, com maior potencial. Sendo um dos cinco paĂses a fazer parte da intersecção dos trĂȘs conjuntos: paĂses com mais de 2 milhĂ”es de KM2 (8 515 767,049 km², em 2012 segundo o IBGE), paĂses com PIB superior a US$ 600 bilhĂ”es (o Brasil possui um PIB de US$ 2.215.040 trilhĂ”es segundo dados do Fundo MonetĂĄrio Internacional referentes Ă 2014) e paĂses com população superior a 100 milhĂ”es de habitantes (o Brasil possui 205.002.000 milhĂ”es de habitantes segundo dados de 2015 do IBGE). Sendo os outros quatro paĂses os Estados Unidos (territĂłrio de 9 826 675 km², segundo o CIA World Factbook; PIB US$ 17.528.366 trilhĂ”es fonte FMI; população de 321.968.000 milhĂ”es segundo dados de 2015 do United States Census Bureau), Ăndia (territĂłrio de 3 285 674 km², segundo o Census India; PIB US$ 1.995.765 trilhĂ”es fonte FMI; população de 1.278.160.000 bilhĂ”es segundo dados de 2015 da Indiastat), China (territĂłrio de 9 640 821 km² segundo o Demographic Yearbook—Table 3: Population by sex, rate of population increase, surface area and density; PIB US$ 10.027.241 trilhĂ”es fonte FMI; população de 1.372.470.000 bilhĂ”es segundo dados de 2015 do National Bureau of Statistics of China) e RĂșssia (territĂłrio de 17 125 187 km² segundo o Demographic Yearbook—Table 3: Population by sex, rate of population increase, surface area and density; PIB US$ 2.092.555 trilhĂ”es fonte FMI; população de 146.606.730 milhĂ”es segundo dados de 2015 do Demoscop).
Deveria ser o suficiente para esperar que o Brasil possa ser paĂs com destino prĂłprio, nĂŁo o de ser um satĂ©lite.
Portanto, sabido que o Brasil tem tudo para ser “grande”, por que ainda nĂŁo o Ă©? Ou se Ă©, por que nĂŁo Ă© reconhecido como tal? E se Ă© reconhecido, por que nĂŁo o Ă© pelo prĂłprio povo?
Primeiramente hĂĄ de se ver quais consideraçÔes sĂŁo levantadas a partir de um senso comum de 5 pessoas a quem fizemos perguntas sobre o Brasil, perguntas tais como “qual sua opiniĂŁo sobre o Brasil frente ao mundo economicamente, avanços sociais, avanços tecnolĂłgicos e culturalmente?” de onde pode se extrair de maneira mais pura o
Ăłdio contra si, contra suas origens e tudo o mais definido por uma
mesma nacionalidade, que aparenta ser uma praga, ao qual se Ă©
amaldiçoado assim que se nasce, estando fadado pelo resto da vida a
estar atrĂĄs de todo o mundo, simplesmente por ser brasileiro, e essa
visĂŁo, Ă© dada por prĂłprio brasileiros.
Isso claro,
segundo as 5 pessoas a quem fizemos as perguntas, nĂŁo Ă© um grande
numero, nĂŁo se pode tirar conclusĂ”es a partir de um numero tĂŁo Ănfimo.
PorĂ©m, segundo resultados obtidos na edição 2014/2015 do projeto The Americas and the World: Public Opinion and Foreign Policy (As AmĂ©ricas e o Mundo: OpiniĂŁo PĂșblica e PolĂtica Externa), coordenado pelo Centro de Investigação e DocĂȘncia em Economia (Cide) do MĂ©xico, em colaboração com universidades da regiĂŁo (no Brasil, o responsĂĄvel pela iniciativa Ă© o Instituto de RelaçÔes Internacionais da USP - Universidade de SĂŁo Paulo, que aplicou 1.881 questionĂĄrios no paĂs), o brasileiro despreza a AmĂ©rica Latina, mas ao mesmo tempo se vĂȘ como lĂder nato da regiĂŁo.
Portanto a idéia de que, o brasileiro nega sua matriz genética e cultural miscigenada não se limita somente aos seus limites territoriais. Apenas
4% dos brasileiros se definem como latino-americanos, ante uma média de
43% em outros seis paĂses latinos (Argentina, Chile, ColĂŽmbia, Equador,
México e Peru).
Isso
pode mostrar que o escĂĄrnio pelo seu histĂłrico de submissĂŁo, de
dominação perante outros alcança também seus convizinhos, pelo mesmo
passado, pela mesma dominação, pelas mesmas ditaduras, arquitetadas
estas, pelo mesmo paĂs em busca de influencias na ĂĄrea, e que tem esse
costume de levar “democracia” aos paĂses que visita.
Essa
semelhança histórica porem, não traz um sentimento de solidariedade,
com o qual se pensa em unificar uma América Latina mais forte e
independente, que pode andar com suas próprias forças, não, o brasileiro
tira de si o mesmo Ăłdio que tem de sua origem, negando-a a admiração, e dando-lhe apenas seu asco, e por semelhanças, oferece o mesmo Ă macrorregiĂŁo que mais lhe lembra si mesmo, que mais poderia ser sua famĂlia, por semelhanças entĂŁo, o Ăłdio.
Mas por que se enxergar como um lĂder dessa regiĂŁo? E mais, de onde viria esta dualidade de negar a si prĂłprio, negar as origens e o querer ser diferente dos demais paĂses latino americanos, mais ainda sim querer ser a liderança?
As hipóteses para tal afirmação podem não ser agradåveis, e pior, tão profundamente obscuras quanto contraditórias.
Estudiosos sociais a muito afirmam uma ambivalĂȘncia, com a qual o Brasil segundo Fernando MourĂłn,
pesquisador do Centro de Estudo das NegociaçÔes Internacionais da USP e
participante do estudo regional em entrevista concedida ao site da BBC em 21 de Dezembro de 2015, disse que "A
primeira explicação Ă© a colonização. AmĂ©rica Latina sempre se associou Ă
colonização espanhola, e isso jå gera uma divisão com o passado
portuguĂȘs do Brasil, depois temos os processos de independĂȘncia na
região. Na América espanhola houve guerras contra a Coroa e o reforço de
uma identidade cultural Ășnica, enquanto no Brasil o prĂłprio regente
portuguĂȘs declarou a independĂȘncia." Isso explicaria a negação quanto Ă matriz Ă©tnica, mas e quanto a exercer a liderança regional?
Estaria
o brasileiro pensando em executar este papel como lĂder para se tornar a
influencia tĂŁo maior, que acarretaria em uma dependĂȘncia dos demais
paĂses? Se sim, teria o Brasil forças para manter esse imperialismo?
Enfim,
baseando-se em tais hipĂłteses, e buscando compreender todas as causas
históricas, esperamos entender o que quer o povo brasileiro em relação
ao Brasil, a América Latina, ao mundo e a si mesmo.
Objetivo Geral
Compreender por que e como foi construĂdo culturalmente ao brasileiro desacreditar do Brasil como paĂs autossuficiente.
Objetivos EspecĂficos
1. Revisar momentos histĂłricos em que o Brasil se tornou dependente economicamente, culturalmente ou polĂtico-socialmente a um agente exterior, e quais as consequĂȘncias dessa dependĂȘncia.
2. Compreender como ser um paĂs colonizado afetou o desenvolvimento brasileiro.
3. Analisar como as polĂticas publicas de diferentes governos atuou a favor da autocrĂtica nacional.
4. Conhecer quem se beneficia e como se beneficia com essa doutrinação.
5. Analisar o contexto mundial para entender como o Brasil foi influenciado.
Procedimentos MetodolĂłgicos
Leitura e debate do material bibliogrĂĄfico, entrevistas,
levantado a partir de discussÔes sobre aulas de Antropologia e
Sociologia, com textos pertinentes ao assunto e que deram margem para
expandir os limites do tema, passando de social para também
antropolĂłgico, econĂŽmico e geopolĂtico, alĂ©m de histĂłrico.
Essa
abrangĂȘncia se deve Ă s referencia utilizadas pelos primeiros textos
discutidos, que criaram uma gama de tĂtulos importantes e relevantes,
que permitiram aumentar e aprofundar a analise desta questĂŁo cultural, a
partir de aspectos de certa forma exteriores.
TambĂ©m o levantamento e analise de dados histĂłricos e atuais, em sentidos econĂŽmicos, polĂticos e fĂsicos de paĂses pertinentes ao assunto, a partir da pesquisa nos portais do Instituto Brasileiro de Geografia e EstatĂstica – IBGE, e tambĂ©m da ComissĂŁo EconĂŽmica para a AmĂ©rica Latina – CEPAL (acessados no mĂȘs de janeiro de 2016).
ReferĂȘncias BibliogrĂĄficas
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